Na CBN, Por Míriam Leitão
13/08/2020 • 10:51
A aposta na economia verde trará resultados positivos para o PIB. O país terá um crescimento extra de 38% até 2030 se adotar medidas para uma economia mais eficiente do ponto de vista ambiental. O Brasil agregaria R$ 2,8 trilhões ao PIB na comparação com 2019, o equivalente a uma economia da Argentina. A projeção está no estudo “Uma Nova Economia para uma Nova Era”, da WRI Brasil em parceria com a UFRJ e com economistas da PUC, ex-ministros como Joaquim Levy e executivos do Banco Mundial.
O estudo considera, por exemplo, o dado da Embrapa, que aponta que 70% das pastagens brasileiras estão degradadas. O Brasil é grande exportador de carne, a pecuária é muito relevante no agronegócio. O economista Rafael Barbieri explica que técnicas simples, como a rotação do pasto e a curva de nível, ajudariam a recuperar o pasto. As tecnologias são conhecidas há muitos anos, mas poucos as adotaram. Em vez de recuperar a terra, o país tem avançado sobre a mata para abrir novos pastos. Cada vez mais, esse movimento atinge áreas da Amazônia.
O estudo traça diferentes cenários, explica Carolina Genin, diretora de clima da WRI. Dependendo do tamanho da área recuperada, se projeta quanto se ganharia com a mudança e as eventuais perdas na produção agrícola caso se mantenha a técnica atual.
Os efeitos da mudança climática têm que ser considerados. Um exemplo é o investimento feito na hidrelétrica de Belo Monte. O cálculo para a obra considerou a média do estudo hídrico passado, mas é preciso olhar para frente. O regime de chuvas está mudando, e a quantidade de água nos rios que abastecem a usina vai mudar também. Se o governo levasse isso em consideração, a hidrelétrica não teria sido feita. Ela corre o risco de virar um elefante branco, melhor seria construir usinas menores ou investir em outras fontes de energia.
A iniciativa, que é parte do projeto New Climate Economy, reúne especialistas para discutir formas diferentes de desenvolvimento. O país teria ganhos se, em vez de subsidiar combustíveis fósseis, usasse o recurso para estimular novos modelos. Ônibus elétricos, por exemplo, poluem menos as cidades, produzem menos gases do efeito estufa e ajudam a reduzir o gasto com saúde. São ciclos virtuosos iniciados a partir de uma opção.
Perguntei a Carolina por que o estudo foi levado a um governo tão estrangeiro a essa pauta, como esse atual. Ela explicou que é preciso continuar pensando o futuro do país, estimulando a pauta e sensibilizando as pessoas, do governo e fora dele.
Vários países estão discutindo a economia mais verde, uma retomada com o chamado Green New Deal, uma referência ao programa aplicado na economia americana para vencer a Grande Depressão na década de 1930. Há uma nova forma de incentivar o crescimento sem repetir os mesmos erros do passado. O estudo ajuda nessa discussão.
Sobre a autora MÍRIAM LEITÃO
Míriam Leitão, jornalista há mais de 40 anos, é colunista do jornal O Globo desde 1991. É autora, entre outros, do livro Saga Brasileira, ganhador do Jabuti de Livro do Ano (2012). Entre seus prêmios, recebeu o Maria Moors Cabot da Columbia University (NY)
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